"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É tempo de travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa







Não sou novela..... mas pode me acompanhar.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

A difícil arte de amar


Nada como ver um filmezinho na TV ("A difícil Arte de Amar" - diga-se de passagem, um ótimo filme!), num domingo à tarde, pra gente dar umas boas risadas e ver que a maioria dos relacionamentos são muito parecidos.
Casamentos, relacionamentos, junção, amizade (colorida ou não), enfim, parcerias que quando resolvem dividir o mesmo teto vêem o quanto é "Difícil a arte de amar".
O filme gira em torno da relação do casal, ele mulherengo e ela mãe/mulher apaixonada.
O filme é divinamente bom, com uma trilha sonora ótima. Adoro "Coming Around Again" da Carly Simon.
Mas o que me faz escrever este texto hoje é a coincidência de certos acontecimentos na vida de um casal, em especial, o desaparecimento do outro par de meia.
Sim, é isto mesmo!
Que homem já não brigou, esbravejou porque ao procurar suas meias na gaveta, encontra várias delas, mas todas sem o seu devido par? Justo "aquela" que ele mais gosta.
Lá em casa isto é muito comum. Mas e daí? A questão é: Onde foram parar aqueles pares? Foram abduzidos, entraram pelo ralo ou simplesmente saltaram para a lixeira procurando um pé novo?
Se nem Jack Nicholson e Meryl Streep tem uma resposta pra isso, eu é que não vou esquentar a minha linda cabecinha com este detalhe tão peculiar das relações matrimoniais e muitissimo comum lá em casa.
Sabe aquele olhar de canto de olho? Foi assim que meu amado marido me olhou quando estávamos vendo o filme na cena das meias. Eu claro, cai na gargalhada. Mas acho que nem assim ele se conformará com o desaparecimento dos tão misteriosos pares de meias.
Mas enfim, chego a conclusão de que esta é uma forma despretenciosa (???) de nos vingarmos daquela famosa tampa de vaso que está sempre levantada esperando que nós mulheres, a abaixemos.
E o papel higiênico? Há, isto com certeza é uma tradição milenar - deles é claro.
Isto merecia até uma tese de doutorado: Porque os homens NUNCA colocam o papel higiênico no lugar?
Bom, vamos parar por aí, senão a lista será infinita.
Que tal lançar as comunidades:
"O outro pé de meia: onde andará?"
" Papel higiênico: ele nasce sozinho no lugar?"

É. Amar é uma arte.



























quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Eita Vida!

"Deixa, deixa eu dizer o que penso desta vida, preciso demais desabafar"


É, acho que pode ser um começo de um texto.
Ando meio - pra não dizer completamente - pensativa e cabisbaixa, nestes últimos dias.
Fatos importantes estão acontecendo em minha vida nos últimos meses. Estão vindo assim de sopetão, sem aviso prévio.
Primeiro veio a noticia de que eu ia ser avó.
Demorei, mas aceitei. A demora não era no fato de que eu teria que aceitar a vinda do bebê e sim a condição de AVÓ.
Tudo bem: aceito. Aliás, tinha outra alternativa? Claro que não.
O que mais me deixava preocupada nesta história toda é de que o pai da cria, meu filho mais velho, tem uma doença crônica, chamada Anemia Falciforme (joga no Google) e que até que a medicina ache uma cura para esta doença, ele dependerá de muitos remédios para ter uma vida "quase normal".
Isto inclui muitas idas e vindas ao hospital e o pior de tudo isto é que são idas e vindas dolorosas. São chamadas de crises álgicas.
São dores terríveis, que a cada crise, se localiza em uma parte diferente do corpo.
Geralmente quando elas vem, é noite, madrugada. E lá vamos nós (eu e ele) correndo pro hospital.
Liga pra médico, chama médico, pede leito, soro na veia, medicação forte (codeína, morfina e todas as "inas" pra dor), grito de dor, emergência lotada, aperto de mão.
Choro.
Acho que estou ficando velha, pois antigamente eu quase não chorava no hospital, aguentava no osso do peito e deixava pra chorar no chuveiro.
Agora já não tô mais conseguindo segurar. Tenho que fugir pra um canto e me debulhar em lágrimas.
Vejo um futuro previsível (??) pra nós.
Sempre fui muito otimista. Desde pequeno ele sempre teve atendimento, sempre o melhor atendimento. Sempre confiei na medicina e apesar dele ter feito muitas transfusões, em uma época que se pegava até gripe na transfusão, ele nunca teve nada.
Graças a Deus.
"Andá com fé eu vou, que fé não custuma faiá. Certo ou errado a fé vai onde quer que eu vá".
Mas de repente, Deus resolve te testar:
Vamu vê guria, até onde vai tua fé. E te dá mais um testezinho de resistência. Resistência de fé e pro teu filho resistência de saúde.
Agora, além da Anemia Falciforme, foi detectado Hipertensão Arterial Pulmonar (joga no Google). Consequência da própria anemia. Sim, é grave.
Ele andava se queixando de tonturas. Não conseguia correr nem pra pegar o ônibus.
E nós achando que era alguma "coisinha" insignificante. Ledo engano!
Como diz minha amiga Grazi (que saudade!):
- Me caiu os butiá dos bolso!
- E agora José? (esta expressão é da Grazi também)
É......mais uma pedrinha pra gente chutar.
Tá. Daí ontem fiquei em casa com uma crise de enxaqueca. Tudo-junto-reuinido. Enxaqueca, TPM e sentimento de perda.
Uma vez li em algum lugar que a atriz Lucélia Santos gostava de lavar roupas quando estava deprimida, pra soltar os bichos.
Eu sou meio parecida com ela.
Quando tô assim, tenho que fazer alguma coisa pra mexer. Além de chorar é claro.
Então fui eu lá pra cozinha fazer uma faxininha. E não é que funciona mesmo? A gente pode ao mesmo tempo lavar as paredes, escutar rádio com aquelas músicas de drama e claro, morrer chorando. Mas tu tem que estar sozinha em casa. Isto é regra. Senão não dá. Porque ter que dar explicação porque tu chora enquanto limpa as paredes não dá certo.
Aí tu aproveita que tem um bloguesinho e no outro dia, quando tu tá mais aliviada, tu vai lá e escreve tudo.
Pode ser que ninguém leia, pode ser também que alguém leia e não dê palpite ou pode ser que algum amigo dê um pitaco. Vai saber.
Gente, não quero ninguém aí com sentimento de pena, pois eu, apesar de estar meio "down", não me dou a estas frescuras.
Acho que tudo na vida tem sua hora e seu lugar.
Se tiver que ser vai ser.
Se não tiver que ser, não vai ser. Super filosófico.
Agora até já consigo dizer pra Nathália: "Amada, vem com a vó". Dá um nó no estômago, mas é um começo!

Afinal, o futuro a gente vê numa bola de cristal? Claro que não.



Eles não são lindos?
Amo vocês, meus amores!

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Futuro previsível?

Está tudo difuso. É o que dá usar uma bola de cristal de segunda mão. [...] Decido apelar para a técnica brasileira de consertar qualquer aparelho. O tapa parece funcionar, pois imediatamente surge uma cena do futuro na bola de cristal. [...] descubro que todas as ruas da cidade estão tomadas por barracas de camelôs, que vendem de tudo, do chaveirinho ao refrigerador. [...] Deduzo que as lojas de comércio como nós as conhecemos hoje estão todas nos shopping centers, assim como os cinemas, os teatros, os restaurantes finos, os ginásios de esportes e os bancos. [...] Mas espera um pouquinho. Esta bola de cristal continua funcionando mal. Ou está, deliberadamente, tentando me enganar. Este futuro é tão exageradamente catastrófico quanto o passado idílico que ela mostrou era falso. Tendemos a escurecer nossos prognósticos na mesma medida em que fantasiamos nossas lembranças. Se o presente está mal é em contraste com um passado de possibilidades perdidas, e o futuro só pode ser pior. [...] Os que freqüentam o Centro, hoje, são os mesmos – multiplicados pelo descaso – que há anos habitavam os arredores da nossa cidade idealizada. Só que agora entraram na sala. [...] Adivinhar o futuro pelo presente tem seus riscos: há alguns anos qualquer profeta juraria que, no ritmo em que ia, Porto Alegre seria uma cidade completamente sem árvores em pouco tempo. Aconteceu o contrário. Alguém, em algum ponto, por alguma razão, tomou uma medida que reverteu a tendência antiverde e o resultado é que Porto Alegre é hoje uma das cidades mais arborizadas do País. Pode muito bem estar se preparando outro futuro, que esta bola de cristal deformada insiste em me sonegar. Acho que ela vai levar outro tapa.

Luís Fernando Verissimo, na crônica Bola de Cristal