"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É tempo de travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa







Não sou novela..... mas pode me acompanhar.

segunda-feira, março 16, 2009

Amizade

"Seja cortês com todos, mas íntimo de poucos, e deixe estes poucos serem bem testados antes que você dê a eles a sua confiança. A verdadeira amizade é uma planta de crescimento lento, e deve experiementar e resistir os choques da adversidade antes de ser receber o nome de amizade."

GEORGE WASHINGTON

Eu que o diga.... ando numa maré de decepções.
Mas isto serve pra mim também!

quinta-feira, março 12, 2009

MARX E OS LAGOS



Está provado que o bater de asas de uma borboleta na China pode afetar o clima em Palomas. É uma das tantas teorias comprovadas pela globalização. Até um dos meus ditados favoritos – os ventos do Norte não movem moinhos do Sul – caiu por terra com a descoberta dessa concepção holística do universo. Tudo se interliga. É por isso que posso afirmar sem medo de errar: a passagem do Guaiba da condição de rio a lago, mais do que significar um rebaixamento para a segunda divisão dos leitos de água, comprova uma das ideias mais rasteiras de Karl Marx ou, ao menos, de como Marx tem sido interpretado por analistas rasteiros como Lênin, Jarbas Passarinho e eu. O engenheiro Henrique Wittler montou um slideshow, difundido na Internet, que mostra como o Guaiba passou de rio a lago. A lei 4.771, de 1965, estabeleceu a necessidade de áreas de preservação permanente destinadas a conservar ‘os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da flora e da fauna, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas’. A faixa de preservação à beira do rio Guaiba foi fixada em, no mínimo, 500 metros. Muita gente não gostou. Alguns, embora nunca tenham sido explícitos em manifestações públicas, entendem que certas populações humanas, especialmente as mais abastadas, teriam o seu bem-estar assegurado se pudessem morar em confortáveis apartamentos ou mansões junto ao Guaiba. Pode-se construir em áreas de preservação permanente, mas isso demanda autorização especial e imóveis voltados para determinadas finalidades de interesse público. Uma chateação. Não se podendo alterar a lei federal, descobriu-se uma terceira margem: seria o Guaíba de fato um rio? Criou-se uma comissão para refletir sobre essa questão quase metafísica. Com base no laudo dos notáveis dessa comissão, o governador Amaral de Souza, que não deixou saudades, decretou oficialmente, em 1982, que o Guaiba não era um rio, mas um lago. Amaralzinho foi o último representante dos militares a dirigir o Rio Grande do Sul sem o aborrecimento de conseguir votos dos cidadãos. Os interventores eram tão poderosos que podiam até transformar rios em lagos. A Lei Orgânica de Porto Alegre, de 17 de maio de 1990, continua chamando o Guaiba de rio. Os vereadores da época queriam seguir a lei de 1965 e manter os 500 metros de área de preservação permanente fixados para as margens dos rios. O governo do Estado encontrou um jeito de escapar à polêmica: só se refere ao Guaiba. Jamais ao rio ou lago Guaiba. A Prefeitura de Porto Alegre atualmente refere-se ao lago Guaiba. A Câmara de Vereadores, na Lei Orgânica, alterada em 2007, continua a referir-se ao rio Guaiba. Curiosamente, quando a Câmara de Vereadores trata do Pontal do Estaleiro, o rio vira lago. Qual a diferença essencial entre lago e rio? Um rio deve ter uma faixa de preservação permanente de 500 metros. Um lago, bem mais modesto, não requer mais de 50 metros. Não há dúvida, o bater de asas de uma borboleta na China pode afetar o clima em Palomas. Ainda mais que ministério público, tribunais, clubes de futebol e governo estão instalados nos 500 metros a serem preservados. Marx tinha razão: por trás do bater de asas de uma borboleta há sempre uma causa econômica. Lago é uma porção de água cercada de interesses econômicos e políticos por todos os lados.


Texto do jornalista e escritor Juremir Machado da Silva,publicado no jornal Correio do Povo em 02/3/09

quarta-feira, março 04, 2009

Feito pra mim

"POEMA DE UMA VIDA"
Para Luisa, entre pétalas e pedras, em seu caminhar.

Difícil, não a arte de amar,
É, dar-se, por inteira, amiga.
Se, os pés, no mar, tocados,Rentes,À beira, de sal e areia,
De espumas e poemas,Não se encharcam,
Nada é certeiro e nem mesmo exato,
E pouco vale a pena o ardor
De ir-se e caminhar, em frente.
Qualquer luz plasmada
É arte oculta nas esferas,É feixe de promessas,
Talvez, desassossego de espantos,
Lutas e martírios, tantos, Tantas esperas...
Quem sabe, nos desencontros, - Suposto véu, oblíquo, do encoberto -,
Um céu, inculto, resida no deserto,
E do incontido suspirar, exangue,
Deste convívio imenso,
Qual surpresa, de rompante,
Prenúncio do minério bruto,Silencioso dom, sereno e branco,
Um lenço, noutro aceno, surge,
Em pétalas de vida por um ramo
De palmas e orquídeas e crisântemos,
No amor o tinto sangue se transforme, ainda.

S. Muylaert (Lago Sul, fevereiro de 2009).



Sérgio é meu cunhado.
Não nos conhecemos pessoalmente, mas com certeza não é a distância que faz com que não tenhamos uma noção de algumas pessoas que conhecemos somente "virtualmente".
Acho que foi isto que ele leu "em mim".
Fico inteiramente lisonjeada e sinceramente não sei se sou merecedora de tão lindo poema.

Sérgio, obrigada. É lindo!