"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É tempo de travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa







Não sou novela..... mas pode me acompanhar.

quinta-feira, junho 27, 2013

Filhos, minha vida!

Então quando a gente tem filhos, acha que eles crescerão sempre debaixo das nossas asas, que um dia quando casarem, forem independentes, mesmo assim, nós os teremos sob nosso controle e que claro, um dia, ficaremos velhinhos e eles estarão ali nos acompanhando. Isso, não é verdade. Descobri isto da maneira mais dura e cruel que se pode ter do que realmente é a vida real. Descobri isso, há 62 dias, quando perdi meu filho mais velho. Como já contei aqui antes, ele tinha Anemia Falciforme e, durante toda sua vida, esteve sob cuidados médicos e sempre fez uso de medicações que o mantinham bem e vivo (ao menos eu sempre achei isso). Mas como a Anemia falciforme, é uma doença que, além de ter muitas complicações, dentre elas dores insuportáveis, ela gosta de trazer outras doenças pra fazer companhia à ela e, são estas, as perigosas, as que mais deixam seus portadores com baixa imunidade e que na maioria das vezes, os matam. Foi isso que aconteceu com ele, com meu filho amado e que eu, achava (mesmo ele tendo todo este histórico)que ele era quase imortal. Achava isto por muitas razões. Por termos sempre convivido com a Anemia Falciforme desde que ele nasceu, por ele sempre ter conseguido passar por todas as barreiras de dores e outras complicações durante as internações, por eu sempre acreditar que a medicina um dia iria encontrar a cura para esta doença e para as outras que se agregam à ela, e finalmente porque sempre fui e sou (??) católica e devota de Santa Rita de Cássia. Tenho uma imagem dela super antiga, que era da minha avó e em muitos momentos de dor, de sofrimento, de quase perda do Marlon, recorri à ela e ela, sempre me ajudou não deixando que ele se fosse. Mas chegou um dia de internação hospitalar, como outros tantos que tivemos em nossas vidas, em que a doença "agregada", a Hipertensão Pulmonar, o deixou o mais vulnerável possível, como ele nunca tinha ficado antes, e que acabou vencendo a batalha que sempre tivemos durante seus trinta anos de vida e o levou. Hoje, 62 dias após o ocorrido, é que consigo escrever este texto que está na minha cabeça, há muito tempo. Tem muita coisa que ainda não consigo fazer como por exemplo em falar o que realmente aconteceu com ele, pois sempre uso as palavras "ele se foi". É difícil pra mim, acreditar que ele não está mais aqui conosco, que nunca mais vai bater na minha porta e me abraçar, ou que não vai mais me ligar, me enviar mensagens, email e noticias suas. É difícil pra mim, acreditar que ele se foi antes de mim. Isso deveria ser proibido nas leis divinas. Um filho jamais deveria morrer antes dos pais, pois acredito que não há dor maior que esta, da perda de um filho, por mais que amemos nossos pais, irmãos, marido, parentes. O filho, é o amor maior que uma mãe pode ter, nada se compara ao amor de uma mãe por seu filho. Nada. A saudade que fica é enorme e dói demais só em lembrar, só em saber que ele não estará mais aqui. Nos primeiros dias, após sua partida, fiquei muito mal, sofri muito (e sofro ainda) e ainda por cima, fiquei revoltada com Deus, com Santa Rita, por achar que eles me abandonaram e que nós não fomos merecedores de que ele ficasse bom e voltasse pra casa, como sempre. Dói em saber que a Nathália,filha dele, não terá mais o pai que ela ama tanto e que às vezes, ainda pergunta por ele, mesmo sabendo que ele se foi, mesmo sabendo a verdade. Dói quando se aproxima a data que ele partiu, dói olhar as fotos dele que tenho espalhada pela casa, dói em passar pela janela do apartamento dele e saber que ele não estará lá dentro e que não vai mais me dizer: "entra mãe".... (pausa); dói em saber que não vamos mais tomar um chimarrão juntos, sentados no banco da praça, no condomínio onde moramos, dói quando a Nathália chora pedindo pelo pai dela, dói ter que festejar o aniversário dela sem a presença dele e que ela agora com 5 anos, regrediu e muitas vezes, começa a falar como bebê, logo ela que sempre foi bem articulada na linguagem, dói às vezes quando ela ainda pergunta: "vó, meu pai tá trabalhando, ele vai voltar?" como se quisesse realmente se certificar comigo de que é verdade, que ele não vai mais voltar, dói em ver que minha filha Camile de 14 anos, que é madrinha da Nath, NUNCA mais quis ir pra casa da minha nora e geralmente está fechada numa concha como se tivesse deletado toda esta situação pra não sofrer. Dói em saber que meu filho Marvin, não vai mais ter o irmão dele pra dar conselhos, pra ver o jogo do Inter juntos e gritarem "feitoooo" na janela na hora do gol. Dói tanta coisa que seria infinito descrever tudo aqui. Um dia, espero voltar a escrever um texto em que eu não esteja tão sofrida, tão amarga e tão baixo astral. Um dia, espero voltar a fazer tanta coisa que nunca mais fiz na vida simplesmente por não ter vontade, por não sentir necessário e nem sentir falta, como se a presença dele aqui, na minha vida, fosse o único motivo pra eu fazer tudo que não faço mais. Tenho consciência de que tenho mais dois filhos, tenho minha neta, nossa estrelinha Nath, meu marido, minha família e por isso não deixei de amá-los, só não tenho mais ele pra amar e isso atrapalha um pouco minha vida, minha rotina e a vontade e desejo de fazer certas coisas, como por exemplo, participar de um simples churrasco. Tenho lutado contra isso tudo, tenho tentado não ser uma pessoa deprimente, chata e chorona na frente dos outros, mas à vezes, é incontrolável, é mais forte do que eu e eu simplesmente choro todas as lágrimas que tenho dentro de mim até secar. Espero ter alegria natural, sem forçar, a ter vontade de pintar minhas unhas, de usar maquiagem, de dançar de novo, de cantar alto e dançar.... a ter vontade de fazer tudo naturalmente como eu fazia antes. Sei que isso ainda vai demorar muito, que esta dor vai ser pra sempre, mas espero que um dia, ela doa menos, pois sei que é só isso que posso esperar, doer menos, pois sei que ela nunca vai parar de doer. Espero ter forças pra poder dar forças pra outras pessoas, espero ser positiva de novo, espero fazer as pazes com minha religião, espero, espero, espero tanta coisa...... Sei que tenho minha família e meus amigos que estão sempre do meu lado, me apoiando, por isso, quero poder dar alegria a eles também. Espero um dia, voltar a ser eu de novo (se é que isso é possível).