"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É tempo de travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa







Não sou novela..... mas pode me acompanhar.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Guria de fibra!



Minha sobrinha quando nasceu, era a segunda de uma prole de três.
Filha sanduíche. Se este estigma é verdadeiro ou não, acho que com ela foi fortemente comprovado.
O filho mais velho era o querido. Primeiro neto, primeiro sobrinho, primeiro tudo.
A filha mais nova era então o bebê que precisava mais de atenção. Naturalmente, ela ficou meio de escanteio.
Minha irmã mais nova e eu então resolvemos dar a atenção e proteção que achávamos que ela precisava. Não sei se foi o suficiente, porque as idades das tias super protetoras não nos davam aval pra tomar decisões ou gritar pra família que aquela bebezinha estava sendo deixada de lado.
Algumas tias-avós tomaram partido dela e também souberam fazer com que ela recebesse todo o carinho merecido.
Assim, veio ao mundo minha querida sobrinha/amiga/irmã: Patrícia
Hoje estou escrevendo este texto em sua homenagem porque a história da vida dela sempre foi de luta, desde seu nascimento.
Ela cresceu ali no meio dos irmãos, sempre preterida.
Minha irmã e eu sempre estávamos em volta. Duas crianças protegendo outra criança.
Filha de minha irmã mais velha, muito cedo foi imposto a ela que tivesse responsabilidade.
E ela teve.
Muito cedo também, começou a trabalhar. No mesmo lugar onde trabalhava, conheceu o homem que elegeria para sempre seu.
Namoraram por algum tempo até que o inevitável aconteceu: engravidou.
Quando isto aconteceu, ela já tinha lá seus vinte e poucos anos. Morava ainda com a mãe. Agora ela era dona de seu próprio nariz, conseqüentemente, um pouco mais respeitada.
Quando sua filha nasceu, teve apoio de toda família. Muitos odiaram o namorado, que na época não assumiu nem ela e nem o bebê.
Tiveram algum tempo de convívio juntos, mas não deu certo. Ambos eram imaturos para uma relação que levava de brinde uma criança.
Continuou morando com a mãe. Nunca parou de trabalhar. Muitas vezes foi o sustento da casa. Sempre foi muito organizada e responsável, tanto que conseguiu comprar um apartamento com um mísero salário que recebia. Vivia só pra isso, trabalho e família. Claro, de vez em quando ela se dava ao luxo de dar uns beijinhos e abraços na sua paixão.
Sempre foi uma pessoa recolhida em seus sentimentos. Quase não se abria com ninguém. Não falava de seu relacionamento com aquele homem que pra toda família não passava de um irresponsável e aproveitador.
Quando a filha dela tinha mais ou menos um ano de idade, começamos a nos aproximar muito mais.
Nossa amizade cresceu como nunca. Começou ali uma cumplicidade que acredito, nunca tive com ninguém. Aquela bebezinha que peguei no colo e que me fez chorar quando foi levada pra Pelotas, agora era minha melhor amiga.
Nossa amizade sempre foi muito sincera. Dissemos coisas uma pra outra sempre na hora certa e do jeito que só nós sabíamos dizer. Causamos muito ciúme entre a própria família, pois a cumplicidade era tanta que só de nos olharmos já sabíamos o que estávamos pensando.
Minha irmã um dia disse: “Ela parece mais tua filha do que minha. Como vocês são parecidas” (até o nosso signo é o mesmo: capricórnio).
Outros disseram: “Mas que tanto vocês conversam? De onde vocês tem tanto assunto?”
Isto porque quando nos encontramos sempre temos coisas a dizer. Muitas coisas. E ás vezes dizíamos coisas que eram bem típicas nossas, como um tapa na cara.
Um dia brigamos. A coisa foi feia. Ela tem uma TPM que avassala qualquer amizade.
Naquele dia tive a infelicidade de encontrar ela entupida de TPM e eu não soube compreender. Resultado: duas bicudas se pegaram no bate-boca. Eu ainda piorei a situação, porque depois do acontecido resolvi não deixar barato e escrevi coisas horríveis pra ela. Estava me sentindo muito mal, achava que ela não tinha um pingo de razão (e não tinha mesmo), mas faltou total compreensão da minha parte. Afinal pra que servem os amigos? Onde estava meu sentimento de amor, amizade e respeito por ela naquele momento? Parecia que tudo tinha ido por água a baixo. Quase morri chorando, com pena de mim mesma e me achando ofendidíssima. Passamos alguns dias sem procurar uma à outra e ainda as duas com muito rancor. Apesar de receosa, um dia resolvi ligar pra ela porque a saudade já estava fazendo um estrago dentro de mim. Mas o bom é que ela também estava se sentindo assim e aí foi fácil. No mesmo momento desliguei o telefone, desci correndo as escadas (morávamos no mesmo condomínio) e fizemos as pazes em meio aos prantos, beijos, abraços e pedidos de desculpas.
Nunca mais quero brigar com ela. Nossa amizade continua firme e forte.
De dois anos pra cá, acabamos nos distanciando um pouco, porque ela começou a namorar e não teve mais tempo pra mim (@#$%$#@!!!!cheia de ciúmes!).
Bom... durante todos estes anos, ela continuou fiel aquele amor da adolescência na esperança de que um dia eles fossem viver juntos, porque sempre continuaram se vendo. Ela amando aquele homem como nunca e que só a fazia sofrer e ele à maneira dele, dando a ela o que ela queria: ele.
Ele a fez sofrer por ter casado com outra, ter tido uma filha e ao mesmo tempo nunca ter deixado de procurá-la (cretino!!!!!).
Mas ela soube esperar. Hoje, a filha dela está com 13 anos e ela está casada.
Com quem? Adivinha?
Óbvio que com o pai da filha dela, que se separou há algum tempo e fez um irrecusável pedido de casamento a ela.
Hoje em dia com certeza ele lamenta não ter dado a atenção e amor praquela menina linda (mimosa da dinda!!!!). Lamenta não a ter visto crescer, dar os primeiros passos, falar as primeiras palavras.
Mas eu acredito que tudo na vida tem sua hora e seu lugar, pois a filha que ele num primeiro momento rejeitou, tem uma cumplicidade e amizade com ele como se sempre vivessem juntos. Muito mais até do que com a outra filha que sempre esteve o tempo todo ao lado dele.
Apesar da saudade que sinto dela, das nossas conversas, dos nossos segredos, choros e das muitas gargalhadas que demos juntas, vejo estes três assim juntos e me sinto muito feliz. Hoje eles moram num apartamento que acabaram de comprar e mobiliar e descansam suas merecidas férias em Florianópolis.

Esta história não está contada nem a metade, mas simplifica aqui o quanto a minha querida sobrinha Patrícia batalhou a vida toda, sempre trabalhando, cuidando da filha, ao lado da mãe, vivendo seu amor às escondidas e esperando pelo tão sonhado dia em que eles três fossem felizes para sempre.
E este dia chegou pra eles. Hoje eles são assim: Felizes.

Pat te amo!




3 comentários:

Rosamaria disse...

que história linda, Lu! felizmente o final foi como nos contos infantis...e foram felizes para sempre. e com a tua força e solidariedade.
parabéns pra Patrícia!
não sei porque, mas gosto de todas as Patrícias que aparecem na minha vida e das Anas tb, e das Lu, e Marias...e das...e das...

bjão, cosquirídia!

Ana disse...

Me emocionei, Lu!
É uma linda história - e verdadeira - por isso tem brigas, pazes, lutas, sonhos realizados...
Parabéns por este teu amor imenso por tua família! Eles tem muita sorte!
Grande beijo!

Anônimo disse...

Bom não sou boa para escrever como você mas vou tentar; então aí vai.....

QUERIDA AMIGA, TIA IRMÃ (QUE MEU CORAÇÃO ESCOLHEU).



Li minha história no teu Blog, e nem preciso dizer que ameiiiiii.

Com certeza nem eu contaria minha própria história com tanta precisão, passou um filme em minha mente e tudo que tu escreveu só mostra o quanto tu me conhece e faz parte da minha vida.

E quero que saibas que apesar da distância que hoje temos, sempre sinto você perto de mim, pois basta uma ligação para nos sentirmos próximas uma da outra e esta cumplicidade com certeza nem a distância vai tirar de nós.

Hoje te senti muito triste e espero que estejas realmente bem e se tem alguma coisa que por algum motivo tu não conseguiu me falar além das demissões espero que se resolvas da melhor maneira possível. Reza com aquela fé que só você tem que tudo vai acabar bem. Às vezes tem coisas que acontecem na vida da gente que no primeiro momento não entendemos o porque, mas Deus sempre mostra cedo ou tarde que foi para melhor, e acabamos entendendo o porque de ter acontecido tal fato conosco....

Quero te ver sempre feliz, e acreditando que tudo vai dar certo, pois você é meu espelho de fé e esperança...

Obrigada por fazer parte da minha vida.

Te adoro..

Beijos.............

Patricia