"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É tempo de travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa







Não sou novela..... mas pode me acompanhar.

segunda-feira, maio 14, 2007

CONTO

Naquele dia sete, ela nasceu. Efervecente! Sob o sol de fevereiro. Já ali, estava imposto o quanto ela teria que lutar pra sobreviver. O sol testando sua coragem. Nasceu sabendo que teria pagar pelos seus pecados em vida, desta e de muitas outras. Não teve opção, foi jogada no mundo. Cresceu por crescer e sem saber pra onde ir, seguiu muitos caminhos, muitos deles completamente tortos. Mas seguiu em frente. Nada abalava aquela pessoinha tão frágil e tão forte. Comeu o pão que o diabo cuspiu e pisoteou. Seguiu crescendo como se fosse um dever, uma obrigação. Sabia que disso não podia fugir. A infância já estava muito distante, não tinha mais volta. Agora era seguir em frente, ou não. Optou por seguir. Ninguém lhe deu a mão pra subir aquele degrau tão alto para o amadurecimento. Mas ela foi. Sabia que mais cedo ou mais tarde dela fariam uso, assim como quem usa um apontador de lápis. Usa até acabar, quando chegar ao fim, compram outro. Agora era ela que sentia dentro de si uma vida que lhe fora imposta. Aproveitou aquele momento pra receber com todo o amor aquela criatura estranha. Quem disse que ela queria? Esqueceu que nada lhe fora antes perguntado. Ela nunca tivera opção de falar, mas sim de obedecer. Aceitou. Aquele mesmo amor que sempre lhe foi negado, mas muito cobrado, agora brotava dentro de si, por algo tão singelo e pequenino. Agora tu serás mãe. Ouviu e aceitou. No seu íntimo sabia que não seria a primeira e nem a última. Precisava provar pra si mesma que ela conseguia. Conseguia fazer o melhor por todas as vidas que ali chegassem. Algumas delas não vingariam. Teve que optar. Talvez seja por isso tanto sofrimento e tapas na cara que a vida lhe deu. Nunca desistiu. Pegou sua cruz e fincou nas costas calejadas pra marchar até onde Deus mandar. Os degraus ficaram mais altos e a cruz ali, pesando. Mas agora já faz parte daquele corpo tão frágil e quase sem vida. Nunca perdeu sua fé, que é só o que lhe resta. Não sabe mais o que esperar e nem que caminho seguir, apesar de estar no fim da estrada. Precisa novamente de mãos. Mas desta vez, mãos que acalentem seu sofrimento e curem suas feridas.



3 comentários:

Graziana Fraga dos Santos disse...

até pensei que vc tinha escrito!
muito legal o texto ;)

Adriana disse...

Lu, obrigado pela visita e pelo comenta´rio deixado no meu blog, realmente a saudades é a grande que as vezes doi...mas a aprendi a viver com ela...
beijinhos carinhosos do outro lado do oceano

Adriana disse...

Lu, obrigado pela visita e pelo comenta´rio deixado no meu blog, realmente a saudades é a grande que as vezes doi...mas a aprendi a viver com ela...
beijinhos carinhosos do outro lado do oceano