"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É tempo de travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa







Não sou novela..... mas pode me acompanhar.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Maratona pelas ruas de POA!


Olho para o relógio e já passa das 17:35. Não posso perder meu ônibus que sai às 18:10h do final da linha. Tem que ser este ônibus que vai mais rápido pela Protásio. O outro vai pela Farrapos e Assis Brasil. Não, não mereço ficar quase 15 minutos parada no viaduto Obirici.
Mas que droga, logo hoje meu chefe, que está em uma reunião, tinha que deixar o celular para que eu atendesse?
Ai que alívio, lá vem ele, que sorte. Entrego tudo e saio correndo, preciso fazer este percurso em tempo recorde, pois o caminho é longo e o pior........estou com um saltão (é o preço da vaidade).
Ta, já to querendo me matar por ter ido trabalhar com este salto alto e fino, e saber que ainda vou atropelar muita gente pelo caminho, mas vamos lá. Em frente, que atrás vem gente.
Fim de tarde, hora do pique, todo mundo saindo trabalho, e o que eu quero? Rua limpa, trânsito tranqüilo? Sonha Luisa, sonha.
Mas bem que poderia ser melhor. O centro de POA (que é no início da cidade) é um atrolho de gente no final do dia. Antigamente eu não trabalhava no centro, então passava por aqui em horários melhores ou se tinha que ficar até à noite, era raridade. Agora não, é rotina.
Primeiro, subo a Espírito Santo que além de ser uma rua estreita, tu não sabe se deixa de pisar nos cocos da cachorrada, se tu desvia de dois bundões enormes que ocupam quase toda a calçada ou se vai pelo meio da rua e tenta driblar os carros.
Tudo bem, consegui mais uma vez chegar à Borges. Mas a calçada continua ainda cheia, muitas bundas à tua frente e de repente levo um susto: um cara do meu lado dá um arroto que quase me mata do coração. Porco, nojento!
Quando consigo chegar quase no final da Borges ainda há o pior trecho: a calçada do Tudo Fácil. Além das milhares de pessoas que se amontoam nas paradas de ônibus, tem aquele entra e sai do Tudo Fácil . E lá vou eu de novo, correr o risco de pedalar (quase que nem o Robinho) no meio dos carros, no meio da rua.
Ainda tem mais? Sim. Chegando no mercado público tem aqueles milhares de camelôs que estão ali no meio da calçada expondo seus trecos, gritando: CD, DVD, CD, DVD, CD, DVD. Caixas de som à pleno vapor, tocando bem alto um funck ou então as músicas dos rebeldes. Ninguém merece!
Mas isso não é nada em comparação às pessoas que vão comendo aquele “gostoso” churrasquinho de gato. Comem como se estivessem sozinhas no mundo. Eu ainda não soube, ou ainda não saiu em nenhum jornal, mas com certeza alguém já foi quase morto com aquela ponta do espeto que eles carregam enquanto comem. É um absurdo, aquela coisa empinada como se fosse uma lança, pronta pra entrar na jugular de alguém. Isso deveria ser proibido, é porte de arma, sem autorização.
Há, ta, claro que não posso deixar de falar nos transeuntes fumantes que ficam jogando toda aquela fumaceira na tua cara e balançando o cigarro como se fosse uma bolsinha de dedo.
Eu já fui queimada, é um nojo isso, sem contar que também é um perigo.
Finalmente chego ao final da linha, o ônibus ainda não chegou, mas a fila é enorme. Quase morrendo de dor nos pés, mas é claro, linda, maravilhosa e cheia de pose. Fico olhando e tentando achar que tem outras mulheres que se solidarizariam comigo. Elas também estão de salto alto. Mas será que todas fazem esta maratona TODOS os dias? Deixa pra lá, todas fazem sim.
Tento dar uma aliviada nos pés: levanto um pé, descanso. Levanto outro, descanso. E lá vem aquele vendedor de VT.: Vendo vale, compro vale. Vendo vale, compro vale. Ai meu Deus e este ônibus que não chega.
Lá foi ele vender em outra freguesia. Pouco tempo de alívio. Mas o que é isso no meu ouvido? Fruta, fruta. Legume, legume. Fruuuuuuutaaaaaa. Que cara louco, chato. Todos os dias a mesma coisa. Grita bem alto no ouvido das pessoas, não quer nem saber se tu ta cansado, estressado, mal humorado. E daí? Ele tem que vender o peixe dele claro, digo, as fruuuuutaaaaaas e legumes. Finalmente, lá vem o bendito ônibus. Consigo um lugarzinho bem na janela. Tiro meu sapatinho, ai que alívio!!!!
Não, não tem chulé. Aproveito minha volta pra casa.
Finalmente consegui pegar meu ônibus, tudo isso pra chegar em casa mais cedo! É, e ainda depois desta jornada (ou seria maratona, trilha?) poder descer do ônibus, rezar para não ser assaltada na rua e chegar em casa sã e salva.
Cheguei. É só desembarcar. Segura na mão de Deus e.........vai.
Amanhã tem mais. Tudo de novo, ou pior.
Mas juro que amanhã venho de tênis.

Bjs e até o próximo assunto.


















3 comentários:

Graziana Fraga dos Santos disse...

quase morri rindo, consegui visualizar tudo que descreveste...
sim a calçada do tudo fácil é terrível, nem sei como trabalhei lá guria!
Ainda bem que meu ônibus passa pertinho do trabalho, essa maratona todo dia ninguém merece mesmo!
até me inspirei pra ontar minha maratona pra unisc de 15 em 15 dias
:)
Belo texto Lú!

Anônimo disse...

Ai Lú, hilário a tua narrativa!Também me identifiquei com o teu relato, só faltou descrever aquelas pessoas que vão bem devagarinho na tua frente, sem o mínimo de senso em dar o ladinho. Na minha opinião as calçadas deveriam ter algumas regrinhas do trânsito: quem não está com pressa que dê passagem e use a pista da direita! :P Beijos e continua postando as tuas histórias muito engraçadas! :) Gabi

Maira C disse...

Luisa, muito legal! Passo pelos mesmos lugares e achei q era só eu a ficar louca de raiva com as pessoas sem noção! Argh, fumantes, gritadores de tudo que é coisa, camelôs, piratas, gente te atropelando... Aliás, assim como andam na rua, andam no trânsito, é igualzinho!! Não respeitam ninguém! Faltou falar daqueles q não param na faixa de segurança prá gente atravessar! Muito engraçado teu texto, prá quem lê mas não prá quem passa por isso né? Dá vontade matar uns dez!!! quaquaqua!